terça-feira, 19 de julho de 2011

Geoengenharia e energia nuclear: brincar de Deus pode ser bom pro planeta


Em maio de 2010, pela segunda vez em 3,7 bilhões de anos, uma forma de vida foi criada sem um pai biológico, fruto apenas de produtos químicos inanimados. Mas essa vida não surgiu de uma sopa primordial, muito menos do Jardim do Éden: ela veio de um laboratório californiano. O criador divino foi J Craig Venter, um biólogo mundialmente renomado, empresário de sucessso e um dos primeiros sequenciadores do genoma humano.
O livro do Gênesis está cheio de exemplos em que os humanos são punidos depois de tentarem se tornar semelhantes a Deus. Mas esse poder divino parece estar cada vez mais nas mãos da ciência e dos homens. E os humanos vão além de criar vida do inanimado: eles têm poder cada vez maior sobre todas as coisas vivas. Nossa força coletiva já ameaça ou oprime a maior parte das forças da natureza, do ciclo da água e de elementos importantes, como o nitrogênio e o carbono.
Tudo está sendo feito para atender nossas exigências, desde campos lavrados até continentes totalmente modificados para nos servir. O lixo, resultado de tanta transformação, fica em todos os lugares como uma marca humana – desde as mais altas montanhas até os mais profundos oceanos. A capacidade produtiva da superfície terrestre é dedicada, em grande parte, para satisfazer nossas exigências de alimentos, combustíveis, e por aí vai.
Está claro que os seres humanos tem tido um sucesso sem precedentes na escala evolucionária em nosso planeta. No entanto, há um lado negro dentro dessa conquista importante. Para a biosfera como um todo, a “Era dos Seres Humanos” tem sido uma catástrofe. Não pensamos duas vezes antes de ameaçar outras espécies para alcançar benefícios para nós. A Terra está agora no auge de sua sexta extinção em massa, a maior calamidade ecológica desde a que eliminou os dinossauros. Nenhuma outra espécie conseguiu – ou teria condições – de controlar os números e o equilíbrio do ecossistema dessa forma.
E o mais incrível é que a maioria parece não estar consciente das transformações colossais que estão acontecendo. Alguns negam as mudanças dizendo que somos pequenos diante da imensidão do planeta, e que mesmo em bilhões de anos, não causaremos grande impacto para o planeta.
De fato, os humanos podem não ser a fonte primária das mudanças climáticas, como observamos recentemente com a erupção do vulcão islandês, um fato natural que provocou grandes estragos que talvez nem os seres humanos poderiam ter causado. Os sistemas naturais são muito maiores do que sistemas feitos pelo homem: ainda não somos capazes de acabar com terremotos ou tsunamis.
Mas a ideia de que os humanos são vítimas não cabe mais em nenhuma situação. Precisamos reconhecer que agora estamos no comando – seja para o bem ou para o mal – para tomar decisões conscientes e coletivas sobre o quanto podemos interferir nos ciclos naturais do planeta e gerir impactos em escala global. Interferindo nos grandes ciclos biogeoquímicos da Terra, ameaçamos pôr em perigo todo o ecossistema e, portanto, a nossa própria sobrevivência.
Agora é necessário que não sejam listados apenas os problemas, mas também soluções. Isso não implica em limites no crescimento econômico ou na produtividade, nem no afundamento do capitalismo. O que devemos fazer é usar todo o potencial tecnológico que desenvolvemos para que os humanos continuem prosperando no planeta indefinidamente.
Algumas alterações em ciclos naturais do meio ambiente que poderão ser necessários para nossa sobrevivência podem parecer ecologicamente erradas. Mas até agora, o ambientalismo tem servido principalmente para exigir a redução da interferência humana na natureza, mostrando isso como algo necessariamente perigoso. Mas “brincar de Deus” pode não ser errado, e sim essencial. Afinal, podemos criar – e não apenas destruir, como muitos acreditam que a ciência fará.
A energia nuclear, por exemplo, não serve apenas para a fabricação de bombas, e pode servir de alternativa para a produção limpa de energia. O mesmo vale para a manipulação genética; a manipulação de plantas é uma tecnologia poderosa que pode ajudar a humanidade a limitar o impacto ambiental das plantações, se alimentando mais e melhor.
A maioria dos “ativistas verdes” também é enfática na hora de criticar a geoengenharia – a ideia de que poderíamos alterar conscientemente a atmosfera para combater a mudança climática. Mas os opositores parecem se esquecer que já estamos realizando uma maciça geoengenharia todos os dias, com as 100 milhões de pessoas usando seus carros, um bilhão de agricultores arando o solo e 10 milhões de pescadores lançando redes ao mar.
Certamente, decisões tão grandes como mudanças climáticas intencionais deveram ser parte de grandes decisões coletivas, e isso pode demorar. Mas se quisermos que o mundo de amanhã se assemelhe ao de hoje, temos que agir rápido. Isso também na área da biodiversidade, que diminui a cada dia em nossa frente.
Talvez não sejamos todos maus por natureza. Nós evoluímos dentro desta biosfera e temos tanto direito de estar aqui como qualquer outra espécie. A nossa era não precisa ser uma época de sofrimento e miséria para as outras espécies: podemos crescer e proteger, assim como dominar.[Telegraph]

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