quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Inteligência Animal.

Contribuição: De: CARLA COSTA carla.caclas@gmail.com


"A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana."
(Charles Darwin)
 

Inteligência Animal (Parte I)


Por Edson Siqueira

O homem, de maneira geral, considera-se, pretensiosamente, uma espécie isolada no contexto dos seres vivos terrenos. Por estar no topo da escala zoológica, em termos cognitivos, imagina-se parte de um reino privilegiado, dotado de uma característica exclusiva: a inteligência. 

As atitudes da grande maioria dos seres humanos, relativas à subjugação dos outros animais, denotam total desconhecimento, tanto das questões biológicas da efêmera existência no corpo físico, como das espirituais, relacionadas à constante evolução diante da eternidade do espírito. Leia sobre este tema no artigo “A Origem doEspírito”, neste site.


É comum aos leigos, atribuir aos homens o dom da inteligência, e aos outros animais, o do instinto. Este conceito, completamente equivocado, é herança do mecanicismo veiculado no século XVII pelo filósofo, matemático e físico francês René Descartes, que em suma, considerava os outros animais simples máquinas.

Está comprovado pela ciência moderna que todos os animais são sencientes. Senciência, que é a capacidade de sofrer, sentir prazer ou felicidade (Singer, 2002), “segundo vários filósofos, fornece ao animal um valor moral intrínseco, dado que há interesses que emanam destes sentimentos; evidências estas bem documentadas por estudos comportamentais, pela similaridade anatomo-fisiológica em relação ao ser humano e pela teoria da evolução” (Luna, 2006).

Ainda no século XIX, o cientista britânico Charles Darwin, que em 1859 publicou a revolucionária obra “A Origem das Espécies”, afirmara: “Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais, nas suas faculdades mentais... os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento”. Contemporâneo de Darwin, o pedagogo e cientista francês Allan Kardec, organizador da Doutrina Espírita, escreveu em sua primeira obra (O Livro dos Espíritos, publicado em 1857): “É verdade que na maioria dos animais domina o instinto, mas não vês que agem com uma vontade determinada? É da inteligência, embora limitada.”

Inteligência pode ser definida como sendo o conjunto de todas as funções que tem por objetivo o conhecimento, ou seja, sensação, associação, memória, imaginação, entendimento, razão e consciência. A cognição é o resultado de processos psíquicos que viabilizam o ato de conhecer, incluindo a percepção e a representação. A memória e a inteligência são atributos cognitivos (Aragão, 2006).

A inteligência permite que se aprenda através da experiência; o comportamento instintivo por sua vez, é determinado pelo patrimônio genético. Mas o homem, bem como os outros animais, agem tanto pela inteligência, como pelos instintos.

O instinto compõe-se de comportamentos essenciais à preservação das espécies. Como exemplos de comportamentos instintivos temos: o sexual, o materno, o alimentar, o de cuidados corporais, o cinético e o agonístico (este refere-se a todo processo conflitivo, como agressividade, defensividade, medo ou fuga).

Estes comportamentos são denominados em etologia (ciência que estuda o comportamento animal), de pulsão, ou seja, são acionados por uma poderosíssima energia interior. É fácil depreender que tanto o homem, como os demais animais, não precisam aprender os referidos comportamentos; já nascem sabendo. Logo, não podemos mais acreditar que o ser humano não aja por instinto. O que difere é que, à medida em que nos desenvolvemos sob a ótica moral, concomitantemente aprendemos a controlá-los.

Um exemplo clássico é o comportamento agonístico. Ele tem uma justificativa evolutiva (sob o ângulo biológico) bastante nítida. Espécies que eventualmente não dispusessem deste comportamento em seu patrimônio genético, certamente teriam sido extintas, pois representa processo de auto defesa, de auto preservação. Todavia, quando o auto controle não se faz presente, a violência alcança níveis insuportáveis, no caso particular da espécie humana, por incrível que possa parecer.

Infere-se portanto, que os citados componentes deste comportamento são necessários, até um determinado grau de evolução moral. Se a violência no âmago da espécie humana é ainda tão intensa, serve como indicador do incipiente nível de nosso desenvolvimento espiritual.  Trata-se de um instinto que precisamos aprender a controlar com a máxima urgência, sem o que não poderemos esperar um Planeta mais equilibrado, mais justo, mais pacificado.

Encerro a primeira parte deste artigo, conclamando-os a uma profunda reflexão sobre as desconhecidas verdades da vida. Somos os mais inteligentes da Terra sim, mas os outros animais também são dotados de inteligência; para eles o instinto representa importante parcela do repertório comportamental sim, mas nossos comportamentos básicos também são instintivos.

No dia 11 de setembro de 2007, foi esta a manchete da seção de ciência do famoso periódico norte americano New York Times: “Morre papagaio inteligente. Emotivo até o fim”. Oportunamente, escreverei mais a respeito dele, um papagaio cinzento de nome Alex, que desencarnou aos 31 anos de idade, mas que deixou um legado impressionante para a ciência e ensinamentos fundamentais para toda a sociedade humana. Suas últimas palavras para sua tutora, a cientista Irene Pepperberg, professora de cognição animal da Universidade de Harvard, foram: “Fique bem. Te amo”.

Abraços!
 

Literatura consultada
Aragão, M. J.. Civilização Animal – A Etologia numa Perspectiva Evolutiva e       Antropológica. Pelotas: Editora da União Sul Americana de Estudos da Biodiversidade (USEB), 2006.  205 p.
Darwin, C.. A Origem das Espécies. São Paulo: Editora Martin Claret, 2004. 629 p.
Kardec, A.. O Livro dos Espíritos. Araras: Instituto de Difusão Espírita, 74ª edição, 1992.  419 p.
Luna, S. P. L.. Dor, senciência e bem-estarem animais. CiênciaVeterináriano Trópico, v. 11, suplemento 1, p. 17-21, abril, 2008.
Pepperberg, I. M.. Alex e Eu. Rio de Janeiro: Editora Record Ltda., 2009. 235 p.
Singer, P. Vida Ética. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 420 p.


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